Site desenvolvido por pesquisadores do ICB-USP e colaboradores traz vídeos, ilustrações, textos e cartazes com informações sobre as formas corretas de vestir e retirar máscaras, luvas, macacões e outros equipamentos (imagem: divulgação)
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) desenvolveram uma plataforma para orientar profissionais de saúde sobre o uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPIs) durante a pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
O site traz vídeos, ilustrações e textos, além de cartazes para imprimir e colar em hospitais, sobre as formas corretas de vestir e retirar máscaras, luvas, macacões e outros equipamentos. A equipe agora prepara um aplicativo com as orientações.
O EPISaúde foi desenvolvido a partir da experiência obtida no Laboratório de Biossegurança de Nível 3+ "Klaus Eberhard Stewien" (que oferece um dos mais altos níveis de proteção, em uma escala que vai até 4) do Departamento de Microbiologia do ICB-USP. O laboratório foi o primeiro do tipo instalado no Brasil, em 2003, com recursos do projeto "Rede de Diversidade Genética Viral (VGDN)", financiado pela FAPESP e coordenado pelo professor Edison Luiz Durigon.
Lideram a iniciativa Ana Marcia de Sá Guimarães, professora do ICB-USP, e Tatiana Ometto, pesquisadora na mesma instituição. O grupo conta ainda com apoio de Durigon, coordenador da primeira equipe brasileira que conseguiu cultivar em laboratório o novo coronavírus (leia mais em: agencia.fapesp.br/32692).
Os textos e vídeos foram produzidos com a colaboração de alunos de pós-graduação do ICB-USP, entre eles Kerstin Muner, bolsista de mestrado da FAPESP, e Alexandre Campos Banari, bolsista de doutorado. Também colaboraram Felipe Silva, mestrando na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), e Giovanni Emiddio Romano, doutorando na mesma instituição.
Todos os pós-graduandos investigam, no Laboratório NB3+, a tuberculose, doença causada por um patógeno (Mycobacterium tuberculosis) classificado como nível 3 de biossegurança e transmitido por via aérea, assim como o novo coronavírus (SARS-CoV-2). O trabalho é orientado por Guimarães, que coordena o projeto "Biologia sistêmica e comparativa do complexo Mycobacterium tuberculosis: efeitos da variabilidade genética no fenótipo bacteriano", apoiado pela FAPESP.
Graças ao histórico de pesquisas com agentes patogênicos, a pesquisadora adquiriu conhecimento em procedimentos que requerem alto nível de biossegurança, inclusive o uso dos EPIs.
"Temos muita experiência no que diz respeito à paramentação, ou seja, sabemos como colocar e retirar EPIs da forma mais adequada. Por isso surgiram demandas para treinar equipes médicas em hospitais. Como neste momento não se pode formar aglomerações, nos unimos para criar essa plataforma on-line, que pode ser acessada por profissionais de todo o país gratuitamente", diz a pesquisadora.
Nos primeiros cinco dias, o site teve mais de 91 mil acessos. "Isso mostra a necessidade por informações dos profissionais de saúde sobre o tema", diz.
A experiência de Ometto em laboratórios com alto nível de biossegurança foi adquirida durante projeto de iniciação científica e de doutorado sobre vírus circulantes em animais, ambos apoiados pela FAPESP.
Durante o pós-doutorado, que teve como tema o vírus do Oeste do Nilo, Ometto realizou estágio nos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, onde trabalhou com alguns dos vírus mais perigosos do mundo, como ebola, Marburg e Nipah.
"Nesse trabalho ficou claro que o Brasil está bem no que diz respeito à biossegurança em laboratórios de pesquisa. No entanto, sabemos que a realidade no dia a dia dos hospitais não é a mesma", diz Ometto.
Por isso, a plataforma conta com um formulário para profissionais de saúde relatarem a experiência atual com a pandemia e os principais problemas enfrentados. A ideia do questionário, que pode ser respondido anonimamente, é dar subsídios para que sejam pensadas soluções voltadas para a realidade dos hospitais, onde é comum a falta de máscaras e luvas, por exemplo.
"O que estamos mostrando no site é o considerado ideal, mas, em uma situação como a atual, há escassez de EPIs e mesmo itens descartáveis estão sendo reutilizados. Essas informações seriam direcionadas ao momento de crise, de forma a ter uma informação mais científica", diz Ometto, que cogita ainda conduzir um projeto de pesquisa em pequena empresa para realizar testes, formular protocolos e padronizações de EPIs que sirvam de referência em todo o Brasil.
Fonte: André Julião | Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
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